Durante o período da ditadura militar, a partir de 1964, o Brasil viveu um período de estagnação tecnológica, com a proibição de produtos importados. E agora chegou o momento de debater, de novo, os importados e a reserva de mercado.
O principal entrave para os brasileiros, naquele período ditatorial, era adquirir equipamentos de informática de muito melhor qualidade do que as verdadeiras carroças tecnológicas às quais podíamos ter acesso no mercado interno.
Protecionismo é atitude de efeito duvidoso, porque, como se diz popularmente, pode resultar numa faca de dois gumes.
Evidentemente, a tecnologia moderna não ficava fora do alcance dos poderosos, naquele período sombrio. Afinal, quem tem poder comete o asqueroso jeitinho para barrar as proibições. E é preciso lembrar sempre disso quando os temas são os importados e a reserva de mercado.
Os mais jovens podem não se lembrar, mas uma das alternativas para se montar computadores no Brasil, por um bom período, era recorrer ao Paraguai, em busca dos componentes eletrônicos essenciais.
Hoje não é segredo para ninguém que a China está na dianteira na exportação de produtos para os mais diversos usos. E possui um parque industrial muito mais moderno do que o do Brasil.
Sem entrar no mérito da questão política, uma vez que a China está longe de poder ser considerada uma democracia, o fato é que há produtos importados bons e outros que nem tanto.
Há formas, no entanto, de se avaliar, previamente, a qualidade daquilo que se quer importar.
Uma delas é a de recorrer às pessoas que já possuem o produto e saber o que estão achando.
Outra, a mais prática e, provavelmente, a mais acessível, é a de verificar a opinião dos compradores nas próprias plataformas de vendas.
Não basta conhecer a opinião de 5 ou de 10 pessoas. Quanto mais compradores se manifestam, mais se torna possível fazer essa avaliação. Antes da compra, obviamente.
Plataformas como o YouTube costumam bloquear a divulgação de produtos importados, por mais que estes tenham sido criteriosamente selecionados.
E isso ocorre sistematicamente, por mais que se dê acesso a esses dados de avaliação, antes da decisão de compra.
No entanto, no início dos vídeos na plataforma, ou em diversos intervalos, surgem inúmeros anunciantes de produtos duvidosos, que não são importados, e que, no entanto – muitas vezes – são denunciados como fraudes em mecanismos de avaliação, como a plataforma Reclame Aqui.
Uma das queixas mais frequentes contra essas picaretagens é a de que a suposta promessa de devolução da quantia paga acaba não tendo efeito, simplesmente porque os telefones nunca são atendidos. E as queixas nunca são respondidas.
Entre essas fraudes estão fórmulas mágicas para ganhar nas loterias ou a propaganda de supostos conhecimentos aprofundados da tática dos judeus para ficarem ricos.
Não que se duvide da sabedoria dos mestres judeus quanto à produção de riqueza. O que, muitas vezes, não corresponde à verdade, é o conhecimento dos supostos mestres ao anunciarem que passarão adiante esse conhecimento.
Ao recorrermos a essas plataformas de avaliação, o que acontece, com grande frequência, é nos deparamos com queixas e denúncias de pessoas que se sentiram lesadas. E que não receberam seu dinheiro de volta, simplesmente porque a exigência a que teriam direito jamais foi atendida.
As plataformas que dão guarida a esses anúncios parecem não saber que há pessoas que se dispõem a avaliar um produto sem sequer conhecê-lo.
A suposta prova social não passa, inúmeras vezes, de um engodo, com uma dúzia de pessoas que se pronunciam mediante pagamento, sem terem – efetivamente – avaliado o produto.
Quem já adquiriu produtos em plataformas de importação da China sabe que não há obstáculos quanto à devolução dos produtos, com o consequente ressarcimento das quantias pagas.
É necessário também, é lógico, avaliar o vendedor, em um mundo apinhado de golpistas que têm a desfaçatez de praticar roubos até contra aposentados que mal têm do que viver.
Mas, simplesmente bloquear, impor obstáculos ou proibir a importação não vai resolver o problema.
Isso será resolvido mediante mecanismos rigorosos de vigilância e punição de larápios, que – estes, sim – têm que ser banidos do mercado.
Simplesmente bloquear a compra de importados ou impor obstáculos praticamente intransponíveis, resume-se a recorrer a uma nada saudosa (nem saudável) tentativa de reserva de mercado por quem não dispõe de estrutura ou logística de vendas adequada à manutenção dos seus negócios.
Afinal de contas, picaretas e desonestos não são apenas os que não possuem certidão de nascimento no Brasil. Eles estão por toda parte. Inclusive, obviamente, estão, aos montes, pregando golpes no Brasil.
A questão é caçá-los. E proporcionar ao consumidor brasileiro mecanismos eficazes de proteção contra esses larápios. E de orientações para que não recorram aos que atuam de forma desonesta.
Proibir anúncios de importados em vídeos gratuitos e, ao mesmo tempo, propagar anúncios mentirosos no início ou nos intervalos dos vídeos, é prática não apenas contraditória.
Pode ser encarada, pelos consumidores, como desleal ou mesmo desonesta, na medida em que essa vigilância sobre a picaretagem não é exercida, apenas porque os picaretas estão pagando para anunciar seus engodos.
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