Uma das cidades mais violentas do mundo, Medellin é um exemplo para o Brasil. Não como local violento, mas sobre como combater a violência.
Antes de mais nada, uma observação que políticos, economistas e administradores aparentemente nunca entendem: violência prejudica o comércio, a indústria, os empresários e os consumidores.
Prejudica quem produz e quem consome. E, mais óbvio ainda, prejudica o turismo, um setor de crucial importância para o Brasil.
Nesse sentido, Medellin, na Colômbia, deu mostras de que soube combater esse problema com mais sabedoria do que muitas cidades no Brasil.
Medellin é exemplo de valorização da cultura
País conhecido por suas belas praias, pelo sol durante quase todo o ano, pelo carnaval e (apesar dos pesares) também pelo futebol, o Brasil perde a oportunidade de ser o país mais visitado do mundo.
Todas essas preciosidades típicas do Brasil seriam uma dádiva de Deus, que parece não serem percebidas nem pelos que se dizem cristãos. E que se metem na política, mas acabam, em grande parte, se envolvendo em escândalos que revoltariam aquele que expulsou os vendilhões do templo.
Medellin, na Colômbia, já foi considerada uma das cidades mais violentas do mundo, mas nos últimos anos tem feito progressos significativos em termos de segurança e qualidade de vida.
Isso se deve, em grande parte, a várias reformas que foram feitas pela prefeitura local para abordar as questões subjacentes que contribuíram para a violência na cidade.
Essas iniciativas têm ajudado a transformar Medellin em uma cidade mais segura e mais agradável para se viver.
Não se pode negar que, nesse aspecto, Medellin é um exemplo para o Brasil, que sempre adotou postura equivocada no combate ao crime.
Eis um dado de crucial importância e que merece ser previamente destacado: a taxa de homicídios na cidade caiu significativamente nas últimas décadas, passando de mais de 380 homicídios por 100.000 habitantes, em 1991, para menos de 20 homicídios por 100.000 habitantes em 2020.
Além disso, dispõe de um sistema de parques e espaços públicos bem desenvolvido, que tem sido amplamente elogiado por melhorar a qualidade de vida dos moradores.
Em um programa televisivo brasileiro, o prefeito que deu início a essas reformas citou sua primeira providência: construiu uma grande biblioteca bem no centro da cidade.
Não parou por aí, obviamente: dotou a cidade de ótimos serviços de transporte público e implantou medidas de cunho social que levaram os moradores a se sentirem, finalmente, acolhidos.
Medellin, la más educada
Uma das principais iniciativas da prefeitura foi a implementação de um programa de inclusão social chamado Medellin, la más educada (Medellin, a mais educada), que se concentra em melhorar o acesso à educação, à cultura e aos esportes para os moradores da cidade.
Isso ajudou a reduzir o desemprego e a pobreza, fatores que, inevitavelmente, contribuem para a violência.
Ou seja: a solução não é matar bandidos, mas bloquear o caminho para a bandidagem.
Algo que está fora da compreensão dos que insistem em negar que a violência têm, indubitavelmente, uma de suas origens nas profundas desigualdades sociais.
Mais uma vez temos que repetir uma expressão presente em vários de nossos artigos: não se trata de defender bandidos nem de colocar as questões pelo viés ideológico, mas de encarar a realidade e de parar de alimentar sofismas, como o fazem os indivíduos que apenas pensam em seus interesses pessoais.
A propósito, em nosso canal no Youtube, onde temos uma playlist sobre Violência no Brasil e no mundo (veja banner ao final deste texto), temos citado inúmeras estatísticas e estudos de fácil compreensão.
Todos os dados e informações levantados e divulgados por fóruns e entidades sérias comprovam o óbvio no qual tanta gente prefere não acreditar: nos países onde não existem os escandalosos fossos sociais que envergonham países como o Brasil, o índice de violência é expressivamente menor.
E quanto mais consolidada a justiça social e arraigada nas pessoas a noção de cidadania, menores são os índices de violência urbana, quase nulos em cidades europeias, por exemplo, nas quais os habitantes têm boa qualidade de vida.
No Brasil, atrasado politicamente, e prisioneiro de vícios e de desvios seculares, fazem parte do cotidiano verdadeiros horrores, como moradores de rua passando fome, favelas em profusão e desgraças do tipo Cracolândia e congêneres.
Portar um simples celular e utilizá-lo em via pública pode significar (e isso tem ocorrido na vida real) risco de ser assaltado, torturado por quadrilhas ou mesmo assassinado por meliantes cujo número parece não parar de se multiplicar.
Mais sobre Medellin, para respirar
Mais uma das iniciativas importantes em Medellin foi a melhoria do transporte público e a construção de novas linhas de metrô e teleféricos que conectam áreas anteriormente isoladas da cidade. Isso ajudou a melhorar o acesso aos serviços públicos e a criar oportunidades econômicas para moradores de bairros mais pobres.
Além disso, a prefeitura trabalhou em estreita colaboração com a polícia e outras agências de segurança para reduzir a atuação de grupos criminosos e melhorar a aplicação da lei na cidade.
Isso incluiu a implantação de mais câmeras de segurança e a criação de uma unidade especializada em combater o crime organizado.
Em resumo: embora Medellin ainda enfrente desafios em termos de desigualdade e crime, as reformas implementadas pela prefeitura local nos últimos anos ajudaram a transformar a cidade em um lugar muito mais seguro e agradável para se viver.
Que Medellin sirva de exemplo para o Brasil
Obviamente que não se pode querer que as coisas mudem como num passe de mágica.
Medellin pode ainda, em muitos bairros, ter a aparência de uma cidade do interior, sem os portentosos edifícios das grandes metrópoles tidas como modernas. Mas que, muitas vezes, extrapolam na criminalidade.
Seguramente, no entanto, tem um perfil muito diferente da época do narcotraficante Pablo Escobar e do tristemente famoso cartel de Medellin.
Educar as pessoas, aumentar os índices de conscientização, promover reformas indispensáveis ao bom convívio social, melhorar as condições de habitação, proporcionar cultura e tudo o que uma comunidade precisa são providências que demoram décadas para se concretizarem.
Certamente a segunda cidade mais populosa da Colômbia não é o único exemplo de como se fazer o certo.
Vários países, pelo mundo afora, já alcançaram um sistema de vida mais digno, mais equilibrado, mais harmonioso e mais humano.
Citamos o caso de Medellin por ser relativamente recente e por representar uma evolução consistente a partir de iniciativas da administração local que se mostraram plenamente realizáveis.
Isso depende, fundamentalmente, de decisão política.
Só nos resta torcer para que Medellin sirva de exemplo para o Brasil, o que nos exige – temos que admitir – muita dose de esperança. E de otimismo.
Clique na imagem para assistir à playlist sobre violência no Brasil e no mundo
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