Uma coisa que nós aprendemos na escola, desde criança, é que os números não mentem. Por essa razão, proliferam no Brasil os sofismas em defesa do armamentismo, como forma de disfarçar as mentiras.
Vamos deixar a situação bem clara: uma coisa é defender armas. E outra, bem diferente, é dizer que defendê-las desmente os números. O fato de a pessoa se achar no direito de ter armas não muda as estatísticas.
Alguns episódios, até ridículos, já marcam essa discussão sobre a violência urbana e a liberação das armas.
Uma delas foi a comparação das armas com chuveiro elétrico. Outra é dizer que um carro também pode matar.
A pequena diferença é que armas são feitas para matar. Mas um carro e um chuveiro não têm essa finalidade.
É impressionante a capacidade que as pessoas têm de ignorar o efeito psicológico que as armas têm.
Uma pessoa armada se torna muito mais valente, na concepção mais negativa do termo.
Em qualquer discussão, dependendo do controle emocional dessa pessoa, ela irá disparar com muita facilidade.
E de nada adianta dizer, depois, que se arrependeu. Até porque a pessoa atingida já pode estar morta.
A respeito disso, outra questão que se soma a esses discursos é a defesa da liberação de armas sem nenhum controle.
Isso acarreta múltiplos riscos.
E essa realidade é óbvia demais para que se tente desmentir, não é mesmo?
Mas, por incrível que pareça, tem gente que não percebe. E sabe por que? Porque o suposto argumento dos que querem enganar se resume a sofismas.
E os sofismas em defesa do armamentismo se baseiam em falsas premissas.
Crianças em risco com armas dentro de casa
Negar que uma arma dentro de casa seja um risco para crianças é mistura de cinismo com má-fé.
Dizer que é preciso ensinar à criança que ali está uma arma e que ela não deve mexer é demonstrar completa ignorância em relação à tendência natural da infância de ser atraída pelo proibido, pela curiosidade, pelo impulso do desafio ao que não pode ser feito. E pela ainda inocente noção de perigo.
Você, certamente, já ouviu falar em status quo. Para manter o status quo, todas as mentiras são ditas, todos os sofismas são acionados.
Achamos interessante notar que muitas das coisas que afirmamos são contestadas por pessoas que diziam que estávamos errados, mas que depois concordaram com o que dissemos.
Quando foi anunciada a intervenção militar no Rio de Janeiro com o objetivo de combater a violência, alertamos, em um artigo, que não iria dar certo; que este não é o papel das Forças Armadas; que elas não foram treinadas para esse tipo de ação, e por aí vai.
Hoje, a realidade está aí para todo mundo ver: o fracasso da operação, admitido até por quem participou dela.
É preciso dar um basta ao abuso de sofismas em defesa do armamentismo
No Brasil faz-se confusão intencional de tudo. Uma das que está em moda, há muito tempo, é a de tentar confundir segurança pública com segurança particular ou individual.
Outra é a de considerar os Estados Unidos um país seguro, comparando apenas com os números da criminalidade urbana naquele país e no Brasil.
Quer citar países seguros? Então, vamos lá: Islândia, Nova Zelândia, Áustria, Portugal, Dinamarca, Canadá, República Tcheca, Singapura, Irlanda, Eslovênia, Japão.
Citamos o Japão por último para fazer a comparação a seguir.
O Japão está entre os países mais seguros do mundo. E lá a concessão de armas passa por um rigoroso processo.
Nos Estados Unidos, a compra de armas é facilitada e o país está longe de figurar nas listas internacionais de países mais seguros.
Mesmo no caso da violência urbana, países como esses que citamos como os mais seguros estão a séculos de distância.
Em 2014 houve seis mortes no Japão por armas de fogo. No mesmo ano, nos Estados Unidos, houve mais de 33 mil e 500 mortes por armas de fogo.
E esse quadro não passou por grandes alterações de lá para cá.
Em muitos aspectos, até vem piorando.
Quem não acredita no que estamos falando pode prestar atenção no noticiário mais recente.
Outra falácia é a de que cultura e educação não interferem no comportamento de uma sociedade.
Essa afirmação já chega ao nível de completa estupidez.
O Brasil precisa, com a máxima urgência, de uma ação dura, competente, eficaz, séria e vigorosa na segurança pública.
Achar que a questão da violência vai ser resolvida com a distribuição de armas também está no nível de estupidez dos que não são competentes nem estão dispostos a assumir uma tarefa de alta complexidade.
E que, por isso, transferem a responsabilidade para uma população que, em grande parte, é despreparada para cuidar do próprio quintal.
No Brasil, o consumo de cerveja é altíssimo. Deve ser por isso que fica mais fácil empurrar tudo com a barriga. É a barriga do chope e da cerveja.
O problema é que, enquanto isso, muitos inocentes morrem.
E esse número só tende a aumentar.
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