O mundo é riquíssimo. Mas a grande maioria da população mundial está na pobreza. Se houvesse uma distribuição justa de toda essa riqueza, ficaria comprovado o equilíbrio de renda da população. Teríamos, finalmente, reconhecido o direito de todos serem ricos.
Costumamos dizer que riqueza não depende apenas de valor financeiro ou, como se diz, de dinheiro no bolso ou no banco. Afinal de contas, há ricos infelizes e pobres felizes. E vice-versa.
No entanto, e isso ninguém pode negar, a pobreza (e, mais ainda, o estado de miséria) impede o acesso a bens essenciais a uma vida feliz, como os cuidados com a saúde, uma educação de qualidade e, obviamente, o lazer. Entre outras necessidades básicas.
Defender o direito de todos serem ricos não se limita a ideologias
Não estamos aqui falando em comunismo ou em confiscar riquezas. O ponto central desse raciocínio são fatores como desperdício e distorções que levam os ricos a se tornarem cada vez mais ricos, e os pobres cada vez mais pobres.
E isso não ocorre por acaso, porque em países como o Brasil – para ficar no nosso exemplo – a própria estrutura fiscal é construída de uma forma que – absurdamente – os pobres acabem sendo obrigados a arcar com uma carga tributária proporcionalmente muito mais elevada do que a dos ricos.
E as distorções se multiplicam, o que agrava ainda mais essa injustiça com relação à carga tributária.
Muitas vezes essas distorções não são percebidas, porque o impacto está no valor monetário de forma isolada, sem que se promovam comparativos esclarecedores.
Compare, por exemplo, o percentual de renda referente ao aluguel de uma casa modesta por um operário de baixa renda e o de uma mansão que tenha sido alugada por uma pessoa de renda bastante alta.
Vamos utilizar, a título de exemplo, o mercado imobiliário de Brasília.(Valores obtidos a partir de anúncios imobiliários)
Na cidade satélite da Ceilândia, o aluguel de uma casa de apenas um quarto, com 30 metros quadrados (valor do m2: R$22,00) sai entre 660 e 690 reais, aos preços de maio de 2023.
No Lago Sul, o bairro mais caro de Brasília, casas com 2 ou 5 suítes podem ser alugadas por valores entre 13.500 e 16.000,00.
O metro quadrado de ambas as casas no Lago Sul é de R$ 27,00.
Fossos sociais representam uma agressão ao direito a uma vida digna
Nem é preciso levar em conta a renda de quem aluga para perceber a profundidade do fosso social, em que um operário paga 22 reais pelo metro quadrado para morar em um cubículo de apenas um quarto, enquanto um rico, pagando 27 reais pelo metro quadrado, mora numa casa com 2 ou com 5 suítes e inúmeras outras dependências luxuosas.
E ainda pode, evidentemente, dividir esse aluguel com outras pessoas que morem com ele, por dispor de vários quartos com muito conforto.
Novamente, não estamos argumentando que as posições se invertam, como num passe de mágica, com o rico ficando pobre e o pobre se tornando rico.
O que está sendo questionado aqui é uma engrenagem que, cada vez mais, alimenta essas disparidades.
O mundo é rico com pessoas pobres
É difícil estimar, com precisão, o valor total das riquezas do mundo, já que isso incluiria uma ampla variedade de recursos naturais, minerais, terra, imóveis, empresas, ativos financeiros e muito mais.
No entanto, algumas organizações e especialistas tentaram fazer estimativas aproximadas com base nos dados disponíveis.
De acordo com um relatório de 2020 da Credit Suisse, o patrimônio líquido total do mundo era de cerca de US $ 418 trilhões.
No entanto, é importante notar que esta estimativa inclui apenas os ativos financeiros e não leva em conta outros tipos de riqueza, tais como recursos naturais, terras e imóveis, o que elevaria, significativamente, esse valor.
Se considerarmos apenas os recursos naturais, as estimativas variam muito.
O mundo é pobre sem reconhecer o direito de todos
Segundo o US Geological Survey, o valor total dos recursos minerais do mundo, incluindo metais, minerais e combustíveis fósseis, é de cerca de US $ 60 trilhões.
Outras estimativas incluem recursos naturais como água, madeira, terra e biodiversidade, o que aumentaria, significativamente, o valor total.
Quanto ao índice per capita, se considerarmos o mundo como se fosse um país, a distribuição da riqueza seria muito desigual.
Isto porque alguns países possuem uma grande quantidade de recursos, enquanto outros têm muito pouco.
No entanto, de acordo com dados do Banco Mundial, o produto interno bruto (PIB) per capita mundial em 2020 foi de cerca de US $ 10.878.
Isso significa que, se todo o dinheiro e riqueza do mundo fosse distribuído igualmente entre todas as pessoas, o PIB per capita, em reais, seria de, aproximadamente, R$ 50.390,00.
Outra estimativa é feita pela Revista Negócios Globo, que nos mostra resultados mais recentes.
Em reportagem publicada em 2022, a jornalista Renata Turbiani informa que a riqueza global, no ano anterior, totalizou US$ 463,6 trilhões, o que equivaleria a cerca de R$ 2,3 quatrilhões.
De forma simplificada, poderíamos dizer que, dividindo-se a riqueza global pelo número de habitantes de todo o globo terrestre, a renda per capita seria de aproximadamente R$ 291.000,00.
E por que usamos a expressão de forma simplificada?
Também é simples de responder: conforme já foi dito, torna-se praticamente impossível chegar a um valor preciso.
Isto porque muitas riquezas acabam não sendo computadas nesses cálculos, pela imensa dificuldade de incluir todos os tipos de riqueza que se espalham pelo globo terrestre.
Mas não é somente isso.
Fazer essa simples divisão torna-se inútil, pois estaríamos considerando a hipótese de que ricos, milionários e bilionários estariam dispostos a incluir suas fortunas pessoais nessa divisão.
E quem acreditaria nessa possibilidade?
Todo esse raciocínio vale, de qualquer modo, para se enfatizar algumas das conclusões evidentes.
Certamente evidentes. Mas que muitos segmentos da sociedade, ainda assim, não querem enxergar.
Mudanças são indispensáveis para reconhecer o direito de todos serem ricos
Podemos citar algumas evidências de que segmentos da sociedade desconhecem o direito de todos serem ricos, em seu sentido mais abrangente:
O mundo não é apenas injusto.
O mais preocupante, além de todas as injustiças, é que as estruturas de poder são construídas e preservadas de maneira a tornar o mundo cada vez mais injusto.
Ainda que não se dividisse a totalidade da riqueza do mundo, o que seria – como já vimos – impraticável, se várias dessas distorções fossem corrigidas de maneira a se extinguir a fome de imensa parte da população, isso já seria um significativo passo.
E se, diante dessa realidade, todas as estruturas de poder, em todo o globo terrestre, se colocassem dispostas a corrigir essas distorções, chegaríamos à nossa idealização inicial, no sentido de não encarar a riqueza apenas no aspecto financeiro.
Afinal, de barriga cheia, com acesso a bens essenciais, aos cuidados com a saúde, a uma educação de qualidade e com direito ao lazer, a população mundial estaria apta a se sentir feliz.
Pena que isso se mostre, cada vez mais, como um sonho utópico.
E pena que a realidade aponte para o caminho contrário a essa utopia.
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